Toda vez que algum homem me diz "você me dá medo" (o que tem acontecido com frequência) eu fico pensando no porquê.
Primeiro ainda sou tentada a cair na armadilha do "eu sou maluca". Não que eu seja a pessoa mais comum do universo, mas digo "maluca" como o adjetivo predileto que os homens usam para tirar qualquer razão que a gente tenha sobre alguma coisa que os desagrada. Nos relacionamentos em geral o "você é maluca" é a mesma coisa do "porque sim".
Segundo, depois de muita força de vontade (e ajuda de terapia) para driblar esse pensamento começo a refletir o que pode causar esse medo.
Analiso primeiro as alegações: imprevisibilidade, agressividade, inconstância.
E aí a justificativa delas: "Não sei como você vai reagir", "não sei o que você vai fazer", "você é muito direta", "você fala tudo na cara", "você faz muitas coisas", "você tem uma rotina corrida", "você muda de idéia muito fácil".
Sinceramente o boi-da-cara-preta ia matar vocês de susto por sms. Porque o que causa esse "medo" é nada mais nada menos do que a idéia de uma liberdade muito básica de existir.
Nós mulheres, em geral aceitamos o comportamento imprevisível dos homens, que vai desde um "balão" na sexta-feira até um pedido de casamento surpresa. Nós somos adestradas desde sempre com desenhos e contos de fada que mostram a dúvida do "será que ele me ama" como algo natural e essencial para a construção dos relacionamentos. Nós mulheres somos educadas para sermos intensas nos relacionamentos, mas de uma forma direcionada: sofrimento intenso, insegurança intensa, dedicação intensa.
Da mesma forma, vocês rapazes são educados a esperar de nós disponibilidade, certezas, estabilidade nos posicionamentos, dedicação.
E o primeiro passo pra gente romper com isso tem que ser parar com essa idéia de medo. Se alguma coisa me dá medo eu vou procurar entender o porquê (a não ser que isso represente riscos à minha vida, óbvio). Não acho normal desistir de algo que nos é atraente por medo. Não fazemos isso com outras coisas da vida: sexo, cachoeira, pimenta, álcool, filme de terror, montanha russa, avião.. óbvio que depois de pensar sobre ou experimentar certas coisas percebemos que elas não nos convém, mas imagina se a gente não fizesse nem conhecesse nada disso sem nem questionar?
E aí venho com essa linha de raciocínio humildemente tentar contribuir para o primeiro passo que um boy de boa vontade pode dar para superação do seu machismo: superar o medo das mulheres empoderadas e das que estão se empoderando. Empoderamento, pra resumir tem a ver com tomar para si o poder sobre seus posicionamentos, direitos, escolhas, ter consciência do seu papel na sociedade e lutar para construir o papel que deseja para si nessa sociedade. Tem a ver com liberdade e auto-estima. Não é nada pessoal com vocês rapazes, é sobre nós mesmas. E aí vem a continuidade do exercício: sair do centro do mundo. Uma mulher empoderada, ou que está nesse processo não quer te machucar: ela tem muitas coisas para fazer.
Então, entendam que esse suposto "medo" na verdade representa o despreparo de vocês para lidar com situações que fogem da "regra". E não há problema nisso. Como me disse minha amiga Bárbara: Respira, inspira e não pira!
Estamos todos aí pra aprender, superar padrões, nos livrar de amarras. Se tiverem boa vontade será um prazer contar com o apoio de vocês.
Aliás, da minha parte será um grande PRAZER. ;)
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