segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Vamos falar de TPM

Então pessoas: TPM (tensão pré-menstrual) não é uma frescura, nem aquele período do mês em que a sua companheira fica "chata pra caraca".

TPM é algo clinicamente comprovado e explicado. E joguem no google para saber sobre essa parte porque eu não escrevo sobre biologia.Eu só queria compartilhar como mulher preta que sempre teve sérios problemas com TPM, que muito me incomoda a banalização de um quadro que é sim clínico.

Somos desde a primeira menstruação adestradas a sentir dor sem mudar nossa rotina, porque isso seria frescura. Menstruação é natural, é todo mês e por isso você não pode parar sua vida - seja nas rotinas da casa, no estudo ou no trabalho.
Nós simplesmente invisibilizamos e desmerecemos a menstruação, como fazemos com grande parte do que diz respeito às mulheres. E isso se dá de várias formas. A primeira e mais comum é inferiorizar: a menstruação é vista como algo feio, sujo, que tem que ser escondido e disfarçado, seja dizendo que se está com dor de cabeça, ou usando absorventes ninjas que prometem quase a invisibilidade. A segunda forma é tratar o tema de uma forma totalmente técnica, banalizando as particularidades físicas, psicológicas e sociais que ele envolve.

Ora meus queridXs, vocês acham que é mesmo tranquilo durante no mínimo quatro dias sangrar e ter um monte de sensaçõs diferentes que podem ser enjoo, inchaço nas pernas, no abdomen, dores de cabeça, nas pernas, sintomas de depressão, fome excessiva, ansiedade, pressão baixa, etc?
Sinto lhes decepcionar, mas não é. E não ache que a gente passa por tudo isso porque é forte ou porque o nosso corpo é preparado. Nós somos adestradas a resistir a isso tudo para poder viver dentro das regras de normalidade da sociedade. Somos coagidas a sentir dor e tocar a vida.

As mulheres modernas sofrem com a tal história do "ué, mas vocês não quiseram direitos iguais?". Isso pode ser traduzido da seguinte forma: vamos usar as suas particularidades contra vocês mas nunca vamos respeitá-las a seu favor. Ou ainda "vamos negar determinadas oportunidades a você alegando que há uma necessidade de divisão sexual do trabalho, mas nunca vamos usar essa mesma perspectiva para lhe conceder direitos". E não venha me falar que a licença maternidade já dá conta. Ela é uma conquista incr[ivel, mas só é tão "respeitada" porque serve para garantir a reprodução de mais trabalhadores, ou seja, a gente vai "parindo mão-de-obra", e eles - o pessoal do capital - querem garantir minimamente que essa mão-de-obra sobreviva, para poder trabalhar.

Saindo do mundo profissional e entrando nos relacionamentos não melhora muita coisa. Porque afinal a gente "não pode descontar nos outros". Mas os outros também não podem ver com seriedade uma questão de saúde. A sociedade não está preparada para a TPM: ou ela acha frescura, ou ela acha maluquice. Nunca me esqueço a vez que dentro do carro de um ex namorado eu, que estava na TPM, tive uma crise compulsiva de choro e o rapaz ficou tão assustado que parou o carro em um posto de gasolina e ficou do lado de fora me esperando parar, pálido. Coitado.
Mas isso acontece no universo masculino e no feminino também. Nós mulheres em geral não somos solidárias com a TPM e o período menstrual alheio, porque como eu já disse, somos adestradas a resistir e achamos que comportamentos diferentes são sinal de fraqueza. Isso não quer dizer que somos incompreensivas ou desunidas e sim que as construções sociais são fortes ao ponto de fazer com que a gente não se enxergue dentro da nossa própria realidade. Mas é claro que isso envolve também diferenças de acordo com a cor e camada social. Uma médica pode não ir trabalhar porque não se sente bem. Mas uma vendedora do Saara não tem o menor direito a passar mal se quiser pagar as contas do mês. E o colorido das bonequinhas desse exemplo a gente sabem bem como é.

E aí você me pergunta: Mas então você acha que todo mês a mulher deveria ter dispensa menstruação? ( já me perguntaram isso nestes termos...)
Olha, eu acho. Sabe por quê? Porque quem criou esse ritmo todo de vida foi essa sociedade aí: quem criou mês, carga horária, salário, folga e tudo que diz respeito a organização do trabalho foi a sociedade. Mas a sociedade não criou o aparelho reprodutor feminino. Ou seja caríssimos: nossa menstruação vem antes dessa papagaiada toda. Então o certo seria isso tudo se adaptar a gente sim! Mas eu não sou tão utópica, ainda. Por isso me conformo, por enquanto, em pedir que: por favor, não banalizem nosso período menstrual! NÃO é fácil, NÃO é frescura, NÃO é questão de autocontrole nem boa vontade. É sim uma questão de saúde. Nos deixem viver nossa menstruação da forma que for possível e melhor para nós mesmas. Se, ainda não podemos mudar leis nem contar com o apoio da maioria dos profissionais de medicina para reconhecer nossas particularidades formalmente, contar com o respeito já é de grande valia.


Não sei se fui muito clara, estou totalmente confusa aqui. Eu tenho a sensação de que tem uma bolinha de ping-pong pulando na minha cabeça e estou chorando desde que eu comecei a escrever esse texto. Além do fato de que a cólica, as pernas doloridas e o enjoo também não estão me deixando pensar direito. E também tem esse sono, porque a pressão estava 9/5 uns 40 minutos atrás.
Não, não tô usando a criatividade pra descrever isso.
Se alguém quiser comprovar pode vir me visitar, só não repara a expressão péssima, a voz rouca e por favor e obrigatoriamente : traga chocolates.

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