quinta-feira, 23 de abril de 2015

As pretas que ouvi falar


Ah! Como eu queria ser dessas moças que eu ouço falar!
Me disseram de umas pretas pra dentro da cidade que andam vindo diferente.
Devem ter dinheiro, devem ter direito, devem bem ter feito algum trabalho pesado.
Ah! Como eu queria um cabelo arranjado.
Esses panos bem caros para andar por aí.
Aprender a dançar, fazer cena... cantar! Imagina?!
Escrever poema.
Me falaram que essas pretas são fortes, que mexem com coisa da África.
Eu bem que queria andar de avião.
Voar por cima do mar, daquele azul todo que eu levo três horas de ônibus pra ver de perto e não entrar.
Ah! Como eu queria ser igual essas pretas que eu ouvi falar!
Tudo moderna, mas meio às antigas
Que cabe em revista, que sabe dançar
Olhar todo mundo por cima
Ser rainha de um reino qualquer que não existe
Deixar as crianças correr, porque são filhos de rainha
Os filhos delas devem correr, devem ser fortes, não têm que ter medo
Ah! Como eu queria ser dessas pretas
Contaram que elas brigam e festejam e que assim o tempo passa
Falaram que trabalham duro e que lutam todo dia pra vida acontecer
Pensando aqui comigo, levo jeito pra coisa!
Vou botar as idéias numa trouxa
A coragem num carrinho
E me mandar pra dentro da cidade
Vou é sair dessa margem que deram
Eu vou ser igual a essas pretas que eu ouço falar
Só vou ajeitar aqui dois ou três sonhos e pegar um casaco.

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