quarta-feira, 15 de abril de 2015

Uma rápida idéia sobre cotas

Para falar de cotas um dos primeiros passos é acabar com a idéia de que para estudar em uma universidade pública basta estudar.
Os vestibulares não são sistemas de avaliação efetivos, são simplesmente ferramentas de exclusão que separam e classificam pessoas de acordo com o conhecimento que conseguem decorar. Por mais elaboradas e integradas que sejam as questões, não é a capacidade de problematizar, interpretar ou propor soluções - fundamentais nas ciências humanas e exatas - que é avaliada, mas sim a quantidade de informações retidas.
Para reter informações, muito além de um potencial individual, são necessárias condições externas favoráveis: tempo para leitura e memorização, estabilidade no meio social que permita a dedicação a esse processo, rotina e também o desenvolvimento prévio de uma série de percepções que facilitam o processo de assimilação e que em geral são estimuladas através de uma educação que não é a disponibilizada no sistema público.
Podemos concluir que as pessoas aprovadas no vestibular não são necessariamente as mais inteligentes, mas sim as que conseguem compor um "perfil sócio-intelectual" pré-definido.
Existem muitas pessoas capacitadas de acordo com os parâmetros educacionais vigentes que não são aprovadas nos vestibulares. Um dos principais motivos é óbvio: não há vagas suficientes para todos os capacitados. E se não há vagas suficientes obviamente é necessária uma classificação. Classificação esta que privilegiará predominantemente o perfil "sócio-intelectual" já mencionado.
O fato de uma pessoa fazer a seleção por dois ou três anos pode parecer apenas um indicativo de que ela demorará mais para se formar, mas já define quem se forma antes, quem se insere antes no mercado de trabalho, quem poderá fazer determinados concursos públicos e quem vivenciará diferentes conjunturas políticas no exercício profissional.
Entender que grupos socialmente discriminados dificilmente pertencerão ao perfil “sócio-intelectual” pré-determinado é um raciocínio praticamente óbvio e diante da comprovada ineficiência dos sistemas de avaliação de ensino garantir que esses grupos tenham acesso a educação não é privilegiá-los, mas sim buscar alternativas de superação das desigualdades e de suprimento das deficiências excludentes do sistema educacional.
Políticas afirmativas, popularmente chamadas de cotas, não permitem que pessoas menos qualificadas ingressem na universidade. E muito menos que a "qualidade dos estudantes do curso noturno diminua" como já ouvi de uma docente. Políticas afirmativas - de forma inicial e não suficiente - permitem que de certa forma tentemos superar a primeira ferramenta de exclusão racial e econômica estabelecida nas universidades que é o vestibular.

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