quinta-feira, 2 de março de 2017

De volta à escrita

Honestamente, estou escrevendo sem saber se vou conseguir chegar ao final desse texto. Para escrever essa primeira frase já foram idas e vindas no teclado: total falta de costume.
E é exatamente sobre isso que eu ando com vontade de falar. Impossível não me olhar hoje e perceber a diferença de dois anos atrás. A fala antes constante, implacável, dura e determinada hoje é mais um campo fértil de (re)pensamentos e ponderações, um grande espaço de considerações e certezas que podem ser, ou não.
Olho muitas outras jovens e me vejo como era um tempo atrás. Longe de orgulho, me preocupo muito. O excesso de certezas ao invés de bem me trouxe muitos problemas, muitas dores, me tomou um bom tempo. Opa! Longe de mim adotar a tendência da relativização eterna. De entrar em uma de que “nunca é bem assim”. Acho apenas que muito mais do que verdades absolutas cimentadas em nossas mentes valem valores e princípios absorvidos pela idéia e pelo espírito.
Quando comecei a olhar para as certezas tão absolutas que tinha e me testar, tentando ir mais afundo e vendo até onde eu realmente sabia o que elas significavam, fiquei chocada. Nada. Aliás, para não ser tão pessimista, um pouco mais do que nada era o que eu realmente tinha absorvido do que defendia, brigava e escrevia.
Mas ao contrário do impulso normal de buscar mais conhecimento teórico eu senti uma vontade enorme de deixar aquilo tudo pra trás e começar do zero. Construir um pensamento a partir de mim. Não me refiro a criar teorias, até porque não tenho a menor qualificação para isso. Me refiro sim, a me permitir vivenciar, sofrer, entender e refletir sobre todos os processos que me envolvem e sobre todas as possíveis respostas que me são apresentadas sobre eles. Me refiro a me permitir ser agente, personagem principal na minha consciência e na minha história.
Arrisco dizer que a maior parte das condutas que assumimos são determinadas pelo medo da crítica ou da rejeição. Como num ciclo, passamos a defender tais posturas com unhas e dentes, em um esforço de impô-las ao outro para conseguir concretizá-la em nós mesmo. Um jogo contínuo de imposição e agressividade, de relações frágeis e superficiais que não resistem a menor presença de uma divergência de ponto de vista.
Nos preocupamos tanto em dominar a “técnica” da resistência que esquecemos de nos deixar dominar pela sua essência. Tentamos dominar a nós mesmas de fora pra dentro, partindo do que nos dizem ser certo para nos construir certas. Conseguimos o feito incrível de complexificar uma existência a tal ponto que se preencha de superficialidades.
Nessa altura do texto eu já sei que minha capacidade de dar voltas ao mundo pensando foi totalmente preservada. (risos)
Mas sobre escrever novamente...sobre o que eu realmente queria falar.
Fiquei por um tempo sem escrever, e acreditava que era por pensar que não tinha conhecimento suficiente para falar sobre assunto algum. Me sentia muito menos capaz do que tantas outras, embebidas em teorias e citações impecáveis, cheias de referências e contextos históricos.
Mas percebi que assim como na escola e na faculdade meu forte nunca foram as citações. O que sempre me fez escrever foi a possibilidade de contar para alguém tudo o que eu pensava sobre alguma coisa. Foi a possibilidade de parar pra pensar sobre algo. De receber uma informação e digerí-la em palavras, usando como órgãos desse processo minhas experiências, meus sentimentos, meu conhecimento. O que sempre me fez escrever foi poder concretizar em palavras minha paixão pela capacidade mais elementar de todos os seres humanos (e não humanos na minha opinião): o pensamento.
Percebi então que na verdade não estava com medo das críticas ou “tretas” como pensei. A verdade é que não sentia a necessidade de limitar as reflexões, de definir, de fechar em linhas. Precisava de mais espaços, ir além de parágrafos, sem ter que me preocupar com erros e coesão. Precisava resgatar a liberdade do meu pensamento para voltar eu mesma a acreditar no potencial dele e assim ter vontade de novo de compartilhá-lo, sabendo que erro, acerto, mudo de idéia e sempre aprendo. Encontrei.