domingo, 18 de março de 2018

A LUTA POR UM PARTO HUMANIZADO COMEÇA ANTES DO POSITIVO

Vivemos em uma sociedade que exige colocar a mulher em um papel materno, mas não quer que ela exerça isso plenamente.
Desde o começo da gestação tentam nos fragilizar de várias formas, seja contando experiências ruins, seja usando o fato de que, por ser uma experiência nova para nós, somos incapazes de fazer nossas próprias escolhas.
Enfraquecer e amedrontar uma mulher na gestação é enfraquecê-la na essência, é tirar no âmbito mais íntimo sua autonomia, é inferiorizá-la, é tentar a todo custo desconectá-la da sua ancestralidade e tirar uma de suas fontes mais poderosas de energia e força.
Não é a toa que se construiu o mito sobre o parto. E não é a toa que tentam a todo custo nos enfraquecer com relação a isso. Parir de forma consciente e ativa é uma experiência única que transforma para sempre o entendimento sobre a vida e todas as suas possibilidades.

Como conseguiram transformar um processo tão natural e fisiológico em um monstro? Como conseguiram transformar avanços tecnológicos que salvariam vidas em armas de destruição do direito básico de poder gerar uma vida e trazê-la ao mundo?

Anunciar uma gravidez traz junto das felicitações e presentes uma ofensiva social que perpetua uma cultura de medo. Medo da gravidez, medo do parto, medo da maternidade. Entre uma e outra frase para amenizar que em geral é "mas vale muito a pena", o discurso é cruel, invasivo e totalmente irresponsável.

As perguntas sobre o parto não demoram muito a aparecer e ao menor vacilo o senso comum já começa a construir sua cama desenhando um parto normal como um sofrimento e um risco. A exceção de precisar de uma cesárea é citada como regra quase absoluta e a hipótese de ter algum problema no seu parto normal é sempre mencionada. Uma sementinha de medo cultivada discretamente e com muito empenho por diferentes pessoas. Uma maldade, pois pra nós, grávidas, cada informação é absorvida agora de forma diferente, cada sentimento sentido de forma mais intensa e assustadora que o normal.

O parto normal passa a ser referenciado unica e exclusivamente pela dor e pelo risco de dar errado. Seus benefícios infindáveis pra saúde, pra conexão mãe-bebê, pro fortalecimento físico e mental da mulher são apagados.
E tentam nos convencer a transformar um dos melhores e maiores momentos de nossas vidas à uma cirurgia. Digo cirurgia, pois a cesárea pode ser um processo tão edificante quanto o parto normal se feita diante de necessidade, com o respeito e o preparo físico e emocional corretos. Mas esse, não é o objetivo, como já disse.

Não consigo entender o prazer de uma sociedade em apavorar novas mães e novos pais ao invés de acolhê-los e respeitá-los para que possam trazer uma nova vida ao mundo com segurança e sabedoria. Não consigo entender como querem que comecemos uma vida de doação e cuidado se já nos pressionam desde o começo a colocar nossas necessidades e medos em primeiro lugar.

Um parto humanizado depende de profissionais que entendam o significado de gerar uma vida com respeito e saúde. Mas depende muito de mães e pais preparados para fazer suas escolhas. Depende de mulheres prontas para exercer sua maternidade como protagonistas e não como meros receptáculo de experiências alheias e palpites.

Se ao longo das gerações a violência vêm se tornando padrão, ter a consciência de olhar pra trás e perceber que certas vivências são mais de dor do que aprendizado se torna necessário. E então, encorajadas por esse discernimento podemos escolher as experiências produtivas e saudáveis para nos guiar. Ou podemos sem medo apenas construir as nossas.
Esse é o poder imensurável que tentam nos tirar desde o começo: o de construir um mundo novo, que seja realmente nosso e bom pra nós.

Minha gestação, meu parto, meu tesouro.

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