domingo, 27 de maio de 2018

Sexualidade na gravidez: Transar é bom e a gente merece, mas não é obrigada

Bom, queria lembrar que não sou especialista em nada: nem médica, nem doula, nem enfermeira, nem sexóloga. Aliás, eu apenas sou especialista em ser curiosa e ficar me fazendo perguntas sobre tudo o tempo todo. E a gravidez é um campo fértil (sem trocadilhos..rs) para muitas e muitas questões novas.


Venho pensando muito sobre a sexualidade das mulheres na gravidez e, como acho que muitas de nós refletem pouco sobre nossa sexualidade em geral, resolvi compartilhar e por que não, dar umas dicas. Estou muito longe de ser super resolvida e acho que cada uma tem seu ritmo em todos os sentidos, mas..... Falar de sexo é sempre bom né?!



Primeiro ponto e eu acho o mais importante: Não somos obrigadas a nada!
Nunca fomos e nunca seremos. Essa idéia de que a mulher precisa satisfazer um parceiro é um absurdo e uma grande falta de respeito. Mas é quase uma regra em relações heterossexuais. A gente é educada logo cedo a “dar conta” do companheiro, porque se não der conta ele vai arrumar alguma mulher que dê. Isso é tão agressivo e cruel, que chega ao ponto de tornar estupros dentro de relacionamentos afetivos "aceitáveis e justificáveis" pra sociedade.
Infelizmente, acho que se todas nós mulheres cutucarmos a memória com sinceridade, vamos lembrar de pelo menos uma ou duas vezes em que fizemos sexo sem vontade, pra agradar o parceiro. Infelizmente eu acho que se pararmos pra pensar vamos lembrar de um número muito maior de vezes em que fizemos isso. E se a gente parar mais um pouquinho vai lembrar de como é ruim. Mesmo que não envolva uma postura “violenta” do outro, é dolorido e invasivo.


PRIMEIRO TRIMESTRE E O ZERO A ZERO

No primeiro trimestre da gravidez é comum a gente ficar uma bagunça. Na verdade a gravidez inteira. Mas pra muitas mulheres e eu me incluo nessa, o primeiro trimestre é a fase dos medos e do mal-estar. A gente ta aprendendo a se acostumar com a idéia de que tem uma coisinha crescendo dentro da gente. Muitas vezes está morrendo de medo de perdê-la. A gente perde o controle sobre o nosso corpo (que na verdade poucas temos nessa vida corrida) e percebe que vai ter que aprender tudo de novo sobre o funcionamento dele. A gente passa mal, vomita, tem cólicas, outras dores no corpo, não agüenta de incomodo nos seios, tem dor de cabeça, mudanças agudas de humor e mais um monte de incômodos impensáveis que podem variar de mulher pra mulher. Ou seja, por mais que a gente fique radiante de alegria tá sempre beirando o caos.
Agora pense se tesão combina com esse quadro caótico que eu mencionei. Bem, além de tudo isso, as mudanças hormonais nessa fase também podem proporcionar uma queda ( no meu caso eu diria um abismo) na libido. E aí a questão que aparece é: Você não quer transar, mas acha que tem que transar. Sim, porque coitadinho do seu parceiro, ele não tem culpa de nada disso.

Opa, opa péra lá cara pálida! Ninguém tem culpa de nada, estamos falando de biologia, de parceria e de respeito principalmente. Se nossos parceiros tem necessidades sexuais nós também temos e uma necessidade pode ser exatamente não transar. Se não ta rolando a gente precisa ter tranqüilidade pra não se preocupar com isso e não achar que um mês, dois ou três sem sexo vão acabar com nosso relacionamento. Nossos parceiros precisam entender que a necessidade sexual deles não é o centro do universo. Não tem essa de “entender o lado dele” ou “fazer um esforcinho”. Transar por obrigação é uma violência que se torna ainda mais cruel e invasiva na gravidez. Portanto, se o bofe “não entender” ou reclamar o meu conselho é que você explique essas coisas todas que falamos e no caso de insistência na falta de noção mande um prático “foda-se”.

Mas um ponto chave é que, quanto mais naturalidade e tranquilidade a gente tiver pra não transar, mais fácil nossa libido poderá voltar. Isso porque uma mente bem-resolvida é fundamental para uma vida sexual bem-resolvida também. Resumindo quanto mais pressão, mais difícil é gozar, sabemos todas. Prazer não é obrigação e se for importante pra nós, a gente pode buscar novas formas, tempos e possibilidades, mas isso tem que acontecer com respeito por nós mesmas, sempre.


SEGUNDO TRIMESTRE: QUANDO A PERIQUITA PISCA

É muito comum e nada obrigatório que no segundo trimestre a tranqüilidade maior sobre riscos de perdas, a idéia mais concreta sobre a gravidez e mais uma leva de hormônios se somem trazendo a libido de volta. É comum que até mesmo faça a nossa libido extrapolar o de costume. Resumindo, pode ser que role um puta tesão nessa fase.
Eeeee alegriaaaaa!!!! Agora é só vitória! Ou não meu bem.

Pode não ser tão simples pra algumas mulheres conciliar a idéia de ter um bebê dentro de você e um pinto entrando em você. E nem pra muitos homens também. A gente é acostumada com a idéia de grávida sagrada e intocável. Eu até acredito que seja uma fase sagrada, mas isso não tem nada a ver com ser assexuada. E muito menos que a gente não possa ser gostosa e quente na gravidez. Pela mor dos céus, ninguém merece fazer só aquele b-a-bá sem graça por meses. A gente também pode querer sacanagem, usar fantasia, falar palavrão e fazer posição nova. A gente pode tudo que se sentir a vontade e que nos faça bem.
A gente pode também começar a transar animadíssima e enjoar no meio e dormir no meio e chorar no meio do percurso, sem achar que isso vai magoar o parceiro. A gente pode tudo e mais um pouco e quanto mais conversar abertamente sobre isso, mais vai ficar relaxada pra bimbar com gosto até o final da gravidez.

Ao mesmo tempo que tem muito homem que quer forçar a barra, tem muuuito cara que cria um bloqueio quando vê a barriga começando a crescer. As duas posturas são impostas pela mesma cultura eurocêntrica que faz do sexo um território masculino e de dominação, ao invés de um espaço pleno de partilha. É muito comum que algumas pessoas desassociem sexo de respeito e cuidado e por isso não consigam conectar uma grávida a uma transa.

Mas por mais que libertemos nossas fantasias o sexo pode continuar sendo um território de carinho e respeito sim! Ninguém aqui ta falando de papai-mamãe e cama com flores do campo. Dá pra ter tapa na cara e puxão de cabelo, roupa de entregador de pizza e algema com muito respeito sim.
A única coisa que não dá é pra gente reforçar estereótipos e imposições da sociedade e limitar nossos desejos ou “não-desejos”. Até porque, se as pessoas caem naquela conversa fiada de que “o homem tem as necessidades” , deveria ser óbvio entender que uma fêmea cheia de hormônios tem todo direito de dar. E dar com gosto e dar bastante.


TRANSAR É BOM E A GENTE MERECE

Superadas todas as neuroses, construídas relações saudáveis e num intervalo entre um mal-estar e outro a gente pode e deve desfrutar de uma vida sexual prazerosa que vai trazer além de prazer, benefícios pra nossa saúde e pro bebê e até pro tão temido trabalho de parto.
A gente pode experimentar novas posições e novos ritmos e certamente ter mais paciência porque até o fluxo sanguíneo na região da vagina muda, o clitóris fica diferente e até gozar pode trazer uma sensação diferente também. Diferente pra maravilhosa e muito mais intensa, ou só diferente mesmo. Mas.... gozar é sempre gozar né migas...
Volta aquela questão da tranquilidade pra lidar com nosso próprio corpo e nosso tempo e entender que o sexo é algo construído e partilhado e não uma coisa pra ser feita para atingir metas de um lado ou do outro.
Melhor dica que eu posso dar sobre sexo na gravidez é: é pra curtir! E curtir pode ser não fazer, fazer devagar ou fazer muito. Curtir suas vontade, suas não vontades, suas experiências. Sexo é pra trazer bem-estar sempre, com ou sem barriga...
Transem muito, não transem, ou transem uma vez na vida ou outra na morte... Desde que estejam tranquilas e em paz com seus corpinhos e com os corpinhos que estão crescendo dentro deles...tudo é válido. <3


Obs: Ainda estou no segundo trimestre... então quem sabe eu volte pra falar dos ziriguidum aos 45 do segundo tempoo ;)

(Imagem: https://pt.pngtree.com/freepng/cartoon-pregnant-women-vector-material_911914.html)

sábado, 19 de maio de 2018

"Desculpa, mas a mamãe precisa chorar"

Muitos são os estudos e publicações que falam sobre como a tristeza da mãe pode impactar o bebê na gestação.
Essa semana li uma matéria sobre o que o bebê sente quando a mãe chora de tristeza. Uma descarga de hormônios e sensações ruins.


E desde o início da gravidez você escuta que não pode chorar, que não pode se aborrecer, que não pode ficar ansiosa. Você não pode. Mas quase nada no mundo real se empenha para que isso não aconteça. E acaba virando mais uma tarefa da super mamãe: de uma hora pra outra, cheia de hormônios confusos transcender todo os sentimentos angustiantes e situaçoes ruins com serenidade e equilíbrio.

Porque as pessoas não exitam em te magoar, mas se qualquer coisa acontecer com seu bebê a responsabilidade é única e exlusivamente sua, a irresponsável que não soube se controlar.

A questão é que as coisas são muito mais complexas e novas agora. Os pesos são diferentes, as palavras ferem mais. E ao mesmo tempo que a maioria das pessoas insiste em te apavorar diante de uma ideia de "maternidade-sofrimento", insiste em te cobrar a tranquilidade e força de uma heroína.

Não acontece assim. E você se sente culpada até por perder a calma, por chorar, por ficar triste, por deixar que alguém te magoe.
Você tentar se obrigar a não sofrer e focar apenas no que é importante pro bebê, esquecendo que você é o que há de mais importante para ele nesse momento.
Mas se alguém está dentro de você, sentindo tudo o que você sente, não adianta querer mentir ou disfarçar.

Talvez seja o único período em que realmente não iremos conseguir mentir pra nós mesmas.
E talvez seja mais do que importante nem tentar.
E só nos resta acalmar o coração.
Respirar fundo.
E honestamemte dizer:
"Desculpa meu amorzinho, mas hoje a mamãe precisa chorar."