sexta-feira, 13 de julho de 2018

"Aproveita pra dormir"

"Aproveita pra dormir."
Toda vez que tenho insônia essa frase ecoa na minha cabeça. Mas não me sinto culpada. Junto com todos os sentimentos estranhos e mal estar que uma insônia traz surge uma certa raiva. Uma vontade de quebrar o silêncio da madrugada e gritar " Mas será que é tão dificil entender? Por que eles fazem isso?"

Uma amiga me falou um dia que eu era muito segura na gravidez, "ah, mas vc não tem medo". Eu disse que não era bem assim, que tinha muitos. Mas na hora foi mais por impulso e humildade. Depois comecei a pensar sobre o medo. Sobre o mar de medos que é a gravidez.
Acho mesmo que o medo é instinto de sobrevivência, necessário, vital. A questão é quando esse medo se transforma num mar de angústias e ansiedades. O risco de perder o trabalho, o risco de perder o companheiro, o risco de nao tomar decisões certas, o risco de não saber o que fazer, o risco da dor, o risco de perder o bebê, o risco de deixar de ser livre e feliz...Riscos as vezes reais, mas muitas vezes forjados pela gente e pelos outros.

Quando eu e outras mulheres batemos tanto na tecla do cuidado ao falar com uma grávida estamos falando sobre algo muito alem de "falta de noção". Estamos falando sobre respeito, cuidado e sobre palavras que podem causar marcas tão profundas que são capazes de mudar o destino de mães e bebês pra sempre.
Muitas mulheres não se darão conta desses impactos e apenas vão seguir influenciadas em sua liberdade de escolha pelas verdades irrefutáveis jogadas sobre elas. Algumas com um maior grau de sofrimento, outras com um grau "menor". Muitas tentarão construir livremente sua maternidade, ignorar as amarras, nao olhar pros lados no trem fantasma que a sociedade monta ao redor das grávidas. E esse último talvez seja mais solitário e igualmente dificil.

A gravidez é inevitavelmente um tanto solitária, por mais apoio que se tenha.
E o medo faz parte da parcela indivisível que a gente carrega.
Ninguém pode sentir como nós. Nem outra grávida com exatamente o mesmo tempo de gestação. Nem o pai do bebê. Nem a amiga mais íntima ou a mulher mais experiente. Assim como a dor do parto é incomparável, inexplicável, incompartilhável.
É algo com que teremos que conviver. Canalizar como fonte de energia e potencializar como estratégia de defesa.
Já que é só nosso que seja moldado e limitado por nós e ninguém mais.


Mas não era pra ser um texto e sim pra ser só mais uma insônia. Porque aproveitar pra dormir nem sempre é possível.