segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Cartas para Babi (2)


Quanto tempo! E como passa o tempo, não é? Dizem que os astros estão mudando e o tempo acelerando. Não sei se é bom, mas confesso que minha ansiedade agradece um pouco.

Sabe, minha querida, após minha iniciação os processos de aprendizado têm sido diferentes.
É como se meu coração e minha mente ficassem mais atentos e comprometidos com as experiências que eu passo. É como se eu tivesse aprendido a valorizar mesmo cada coisa que acontece e force uma barra enorme pra conseguir tirar lições de todas elas.
Bem eu sempre fui o tipo que viaja um pouco tentando refletir sobre tudo na vida (#humanas..rss), mas acho que venho conseguindo fazer isso de forma produtiva agora.
Não, eu não estou falando de ser resignada diante de todas as situações. Muita coisa me deixa bem puta, com o perdão da palavra. E muita coisa eu acho injusta, não injustiça do destino, mas injustiças cometidas pelas pessoas. Mas eu tenho conseguido escolher o que vai me marcar das situações, definir o que eu quero fazer com elas.
É um processo longo e muito confuso: às vezes parece um otimismo meio idiota, às vezes parece que eu fico fugindo de uma realidade óbvia e nada romântica e às vezes parece que eu fico remoendo os fatos mais tempo do que deveria. Mas aos finais de tudo isso, sinto que venho conseguindo me mudar de verdade. Talvez seja o esforço mais real que já fiz na vida pra me tornar a mulher que realmente quero ser. Os resultados são lentos e talvez ninguém vá perceber mudanças significativas agora. Mas o que importa é que pra mim elas têm feito muito sentido.

Algo valioso que aconteceu nos últimos tempos foi repensar o meu conceito de fé.
Fé no sagrado, fé em mim mesma, fé nas pessoas.

Sobre a fé no sagrado venho entendo que não tem nada a ver com abraçar verdades e não questioná-las. Tem a ver com receber orientações e aprender a forma mais sincera de absorvê-las, o jeito mais honesto de acreditar nelas. Nós construímos nossa fé e isso não significa fazer invencionisses na tradição, mas absorvê-la através de experiências e sentimentos que façam sentido pra cada uma de nós. Têm sido maravilhoso perceber que existe uma conexão direta com o sagrado, que não depende de nada nem de ninguém além de mim e da espiritualidade.

Sobre a fé em mim basicamente entendi que ninguém sabe mais sobre mim do que eu mesma. Sim, conselhos são bons, carinho é bem-vindo, mas é preciso entender que por mais boa vontade que o outro tenha, nunca sentirá o que nós sentimos. É necessário ouvir as pessoas que amamos, mas é fundamental colocar um limite para que elas não passem a se achar no direito de nos dizer quem somos. Esse limite preserva as relações e ajuda a manter o respeito pela nossa essência. E se o mundo já deposita na gente milhares de julgamentos, devemos fazer o máximo para que a escolha da forma de como nos projetar nele seja um direito só nosso.
Aprendi revendo certas situações e principalmente lendo coisas antigas, que eu já me disse muitas das coisas que preciso saber e que eu já aprendi certas coisas, mas talvez tenha esquecido. Aprendi que eu tenho muito mais capacidade de seguir em frente e mais força do que eu pensava. Se eu posso dar um conselho nessa vida é: escreva! Registrar os pensamentos ajuda a retomar muitas questões e tem me ajudado a lembrar a mulher que sou em alguns momentos confusos. É como ir construindo um manual sobre si mesma, que mesmo incompleto ajuda a relembrar os consertos que já foram feitos e as potencialidades que já existem de fábrica.

Sobre a fé nas pessoas, bem, continuo achando que muita gente é ruim. Continuo tendo me magoado com muita gente. Continuo preferindo os animais a cada dia que passa. Mas também tenho aprendido que todas as pessoas devem ser olhadas no mínimo três ou quatro vezes. Pois a cada vez que a gente olha elas irão parecer diferentes. Isso significa que gente aparentemente perfeita vai mostrar defeitos e que gente que não gostamos pode se mostrar melhor do que esperávamos. Um processo que pode trazer boas surpresas e nos preparar um pouco melhor para as decepções. As pessoas são como livros de poesias: causam em cada um de nós uma sensação diferente. Podem nos confortar, nos representar, nos chocar, nos emocionar, nos alegrar ou nos fazer chorar. Podem trazer sentimentos diferentes em capítulos diferentes.
As pessoas têm sido agora o meu maior desafio, pois também me vejo enquanto pessoa e, honestamente, duvido muito de que um dia serei totalmente capaz de me controlar e não magoar ninguém. Duvido muito de que um dia serei apenas uma poesia doce, com jeito de brisa mansa e fresca.
Mas eu ainda consigo sentir uma quentura no coração diante de certas pessoas. E já que a decepção é algo que vai acontecer evitando ou não, eu tenho tido menos medo de pensar "Puxa, como eu gosto de fulana!", ou "Mas como cicrana é agradável!", ou até mesmo "Vou me esforçar para estar perto de beltrana!". Acho que vale mais apenas correr o risco de acertar e viver boas experiências do que ficar se prevenindo do inevitável.

Mas são processos, construções e eu não sei se daqui a um tempo voltarei te escrevendo algo totalmente diferente. Pode ser que não deem certo, pode ser que eu mude. Pode ser que eu encontre um caminho de me sentir ainda melhor, que eu certamente vou seguir.
Mas eu já não me preocupo tanto com a exatidão do que será e sim com o benefício do que está sendo.

Espero que esteja muitíssimo bem.
Feliz Ano Novo!

Obs: Desisti do meu pseudônimo, já passou muito tempo e eu não acho que ele seja capaz de me representar. Estou fazendo um sacrifício muito grande tentando descobrir quem sou para me esconder atrás de uma outra pessoa.

Abraços,

Monique